Como o psiquismo humano se torna histórico-cultural? As contribuições da análise saussuriana às teses desenvolvimentais de Vigotski
Resumo
Este artigo discute uma das teses fundamentais da obra de Vigotski: a interiorização e a apropriação da linguagem produziriam uma revolução no sistema psicológico humano, fazendo-o passar de um regime biocomportamental para um regime sócio-histórico. Muito embora aceite a validade dessa tese, o presente artigo problematiza algumas implicações do modo como Vigotski a postula; ou seja, problematiza as consequências da suposição da existência de duas raízes desenvolvimentais disjuntas que se uniriam originando o pensamento verbal como uma realidade nova, sócio-histórica. Propondo-se a reforçar e desenvolver a tese vigotskiana, os autores buscam nas teorizações de Saussure sobre o signo linguístico aportes para esclarecer aspectos não claramente evidenciados e não desenvolvidos na obra de Vigotski: i) o papel das interações na formação do pensamento verbal; ii) o estatuto e a estruturação dos signos e das significações; iii) o mecanismo pelo qual o pensamento verbal torna-se sóciohistórico. Para essa tarefa, os autores mobilizam um corpus ampliado da obra saussuriana, incluindo as notas manuscritas de Saussure – parte delas descobertas em 1996 – e as notas de E. Constantin relativas ao terceiro curso ministrado por Saussure, desconhecidas pelos redatores do curso de linguística geral.
Palavras-chave
Vigotski. Saussure. Desenvolvimento do psiquismo. Signo linguístico. Pensamento verbal.
How did the human psyche become cultural-historical? The contributions of Saussurian analysis to Vygotski’s developmental theories
Abstract
This article discusses one of the fundamental theories of Vygotski’s work: that the interiorization and appropriation of language would cause a revolution in the human psychological system, causing it to go through a bio-behavioral regime to a social-historical regime. Although the validity of this is accepted, this paper presents the problems of some of the implications of how Vygotski postulated it; in other words, it shows the problems regarding the consequences of the supposition that two disjointed developmental roots would be joined by originating in verbal thought as a new socio-historical reality. In proposing to reinforce and develop Vygotski’s theory, the authors look to Saussure’s theories on the linguistic sign for contributions to clarify aspects that are not clearly seen and developed in Vygotski’s work: i) the role of interactions on the formation of verbal thinking; ii) the nature of signs and meanings; iii) the mechanism and structure through which verbal thinking becomes socio-historical thinking. To do this, the authors mobilized a broader corpus of Saussure’s work, including Saussure’s manuscript notes – part of which were discovered in 1996 – and the notes of E. Constantin regarding the third class given by Saussure, which were unknown to the reporters of the general linguistics course.
Keywords
Vygotski. Saussure. Development of the psyche. Linguistic sign. Verbal thought.
DOI: http://dx.doi.org/10.18676/cadernoscenpec.v1i1.42
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ISSN 2237-9983